Do divórcio à redescoberta de si: Rainha da Acadêmicos vive jornada existencial no Carnaval

O Carnaval ressurgiu na vida da técnica de enfermagem Elisabete dos Santos da Silva no fim de 2022. Veio como uma sugestão de Jucelena Oliveira, ex-musa da Acadêmicos do Sul da Ilha e colega nos corredores do Hospital Governador Celso Ramos. Ela “abriu as portas” da agremiação para Santos.

Recém divorciada, há apenas quatro anos morando em Florianópolis e a 500 km da família, que mora na cidade gaúcha de São Leopoldo, a atual Rainha da Acadêmicos do Sul da Ilha buscava a si mesma.

“Era um momento que passava após deixar um casamento de cinco anos. Estava perdida, procurava o sentido da minha vida, estava sozinha e com meus projetos pessoais. Pensava: ‘para onde eu vou?’”, lembra Elizabete, hoje com 38 anos. “Foi quando me redescobri no samba”.

O perfil faz parte de uma série de reportagens do ND Mais com as rainhas das escolas de samba de Florianópolis que vão desfilar no Carnaval 2024.

Carnaval

 “Eu não tenho uma história no Carnaval de Florianópolis para te contar. Mas tenho uma história de vida e de luta. Sai de trás e hoje sou rainha”, afirma a técnica de enfermagem, Elisabete dos Santos, rainha da Acadêmicos do Sul  da Ilha, – Foto: Leo Munhoz/ND

Desde que veio morar na Capital, em 2018, Elisabete concilia dois empregos. São 40h cuidando de moradores de Florianópolis em uma UBS (Unidade Básica de Saúde) e dois a três plantões semanais de 12h cada no Hospital Governador Celso Ramos.

Encaixar a Acadêmicos do Sul da Ilha é um esforço homérico. Não foram poucas as vezes que Elisabete encerrou expedientes que somavam 20 horas e percorreu os 25 km que separam o bairro Jardim Atlântico, onde vivia, até os ensaios no barracão da agremiação, na praça da Tapera.

Desde o primeiro ensaio, quando quis fugir após o salto descolar e o pé sangrar quando sambou descalça, se construiu aquilo que ela chama de “segunda morada”. “Os amigos que fiz se tornaram parentes. O Carnaval ajudou a criar a minha família de Florianópolis”, reforça.

“Eu sempre estava lá do lado da bateria, dançando e me agitando”, lembra a Rainha sobre o agito do Carnaval gaúcho – Foto: Leo Munhoz/ND

Das muambas gaúchas ao Carnaval da Passarela Nego Quirido

As primeiras memórias da folia datam da infância e remetem aos carnavais gaúchos. Pertinho de casa de São Leopoldo, a menina via chegar as chamadas muambas, ensaios feitos pelas agremiações para movimentar as comunidades dos bairros. “Eu sempre estava lá do lado da bateria, dançando e me agitando”, conta.

No município vizinho de Campo Bom, era espectadora da folia junto ao pai, José Euclides da Silva, que faleceu há cerca de sete anos. “Ele adorava o Carnaval. Desde pequeninha, ele colocava a sementinha no meu coração”, relata. Já a mãe, Maria do Santos, sempre sonhou em sair na ala das baianas. “Eles não tiveram a oportunidade, e hoje me proporciono a viver isso”.

Memórias do Carnaval de São Leopoldo marcam a trajetória de Elisabete – Foto: Leo Munhoz/ND

Ao reencontrar o samba anos depois na Acadêmicos do Sul da Ilha, ela reencontra também aquela menina. E neste novo capítulo, vive uma história intensa: no Carnaval de 2023, foi selecionada à ala de passistas, desfilando pela primeira vez na Passarela Nego Quirido. Naquele mesmo ano, foi escolhida Rainha.

A ascensão é tão meteórica quanto aquela vivida pela Acadêmicos do Sul da Ilha. A agremiação venceu o Grupo de Acesso logo em sua estreia em 2020 e. Em seu segundo Carnaval, em 2023, surpreendeu como a terceira colocada ao homenagear o centenário do Avaí.

“Ninguém tem muita expectativa, mas estamos entregando tudo. Temos muito a oferecer”, assegura. “Eu não tenho uma história no Carnaval de Florianópolis para te contar. Mas tenho uma história de vida e de luta. Sai de trás e hoje sou rainha”.

Aprofundar a relação com a Acadêmicos do Sul da Ilha é o plano traçado por Elisabete para os próximos meses. Ela planeja se mudar para a Tapera para estar mais perto da comunidade. “Hoje me sinto casada com meu pavilhão”.

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