Dayana Mello, rainha do Jardim das Palmeiras, já nasceu no Carnaval: ‘Me via sambando’

Com origem e família carnavalesca, a rainha do Jardim das Palmeiras, Dayana de Souza Mello, 40 anos, nasceu no carnaval na escola Beija-Flor do Sul, fundada pelos familiares dela e que não existe mais. A sambista nasceu em Porto Alegre e com 2 anos, veio com a família para Florianópolis.

“Já nasci no carnaval. A primeira escola que meus pais e família teve contato foi com a Consulado. Eu digo que sou cria do Consulado. Minha história se fez e começou na Consulado”, conta.

Dayana Mello é a rainha da Jardim das Palmeiras em 2024 – Foto: Arquivo pessoal Dayana Mello

Com 5 anos, a sambista pisou na quadra da escola pela primeira vez. “Eu me via já sambando, via outras meninas e mulheres e ia para o meio na ala de pandeiristas e ficava sambando com eles”. A minha escola de coração é a Consulado”.

Conforme foi crescendo, Dayana desfilou na ala das crianças, ala comercial, ala de passo marcado, mas o sonho mesmo era entrar na ala de passistas, uma ala mais fechada.

Ela só conseguiu entrar na corte através de concurso, aos 21 anos, quando Marja Nunes saiu para ser madrinha de bateria e Dayana ganhou como cidadã-samba em 2004, onde permaneceu por quatro anos.

Pai Alexandre Mello coordenador de desfile da harmonia (esq.); Vera Regina de Souza Mello (baiana) (dir); Márcio Mello (irmão) na bateria; Madrinha Ema Kirinus e Luis Kirinus – Foto: Arquivo pessoal Dayana Mello

O pai dela, Alexandre Mello, hoje com 73 anos, foi coordenador de desfile na harmonia; a mãe, Vera Regina de Souza Mello, de 70 anos, desfilava como baiana e o irmão Márcio Mello, de 44 anos, saiu na bateria.

A sambista conta que ficou na escola até 2007 e recebeu uma proposta para viajar. Ela começou fazer jazz e dança de salão e a vida toda era da dança, assim como primos, primas e demais integrantes da família, que é oriunda da arte.

Assim, Dayana fez uma audição para trabalhar em um navio e foi para um cruzeiro na Ásia. Pediu licença da escola e trabalhou em cruzeiros, cassinos em navios por 10 anos.

Dayana voltou de vez a Florianópolis em 2015 e dois anos depois, ela participou do concurso para rainha da escola e foi primeira princesa da Consulado.

Em 2019, Dayana participou de uma seleção de um evento de samba no pé no Rio de Janeiro. E retornou novamente à Consulado desfilando como passista a convite da coordenadora das passistas da escola, Paula Cabral.

Dayana Mello ganhou concurso de Passista de Ouro Lira em 2016 – Foto: Arquivo pessoal Dayana Mello

Dayana recebeu um convite em 2023 para ingressar na Corte, como cidadã-samba, e esse ano ela recebeu o convite para ser rainha da escola Jardim das Palmeiras.

Envolvimento com o Jardim das Palmeiras

No ano de 2006, Dayana já havia participado do concurso da rainha de São José e foi princesa nesse mesmo ano e também em 2012.

A sambista se afastou por dois anos do carnaval, devido a um problema grave de saúde e não pode estar presente. Ela passou mal exatamente no dia do desfile.

Organização e escola muito família

Ela conta que a escola continua sendo muito família desde quando era bloco. “Conhecia e achava o bloco muito organizado. É uma escola que até hoje continua sendo família. Eles eram muito receptivos e isso me chamou atenção”, lembra.

Dayana Mello no carnaval 2024 – Foto: Arquivo pessoal Dayana Mello

A partir de interesses de amigas que eram do Jardim e outras pessoas ligadas à escola, que surgiu o interesse de Dayana. “Tive interesse pela escola, em conhecer, me aprofundar. A receptividade que eu tinha deles era bem diferenciada. E ainda por ser uma escola que estava se formando, eu via que tinha algum potencial no bloco”, aponta.

Diferencial da escola 

“Pela recepção deles, uma escola muito família, não conhecer muito a fundo, então, quis conhecer porque tinha um diferencial ali, de tratamento. Não que minha escola de coração não tivesse, mas senti o que posso fazer com todo meu conhecimento, como ajuda com passistas e surgiu o convite para ser cidadã-samba da escola e fiquei bem feliz de poder agregar de alguma maneira. É uma escola nova, que está vindo com tudo, pela organização, crescimento, o pessoal é bem focado”.

Dayana Mello e a comunidade

A escola Jardim das Palmeiras fica sediada no bairro Forquilhinhas, em São José, e foi fundada em 6 de agosto de 2005. Dayana relembra a força de vontade de cada um e da energia da comunidade.

“Fui nova na comunidade, a escola já tem um bom tempo. Desde o primeiro momento que pisei na escola, acho que foi mais a energia deles. É uma escola que faz de tudo para agradar o próximo e de muito acolhimento. Isso me chamou atenção porque sou assim também. Eu gosto de estar de socializar estar com as pessoas”, revela.

Ela percebe o carinho das outras agremiações para com a Jardim das Palmeiras. “É uma escola que eu acho que é tem um carinho de todas as outras por ser a caçulinha”.

E na hora da disputa?

Mesmo com a família toda enraizada na Consulado, Dayana de Mello conta eles mudam de lado para torcer por ela, que estará a frente da Jardim das Palmeiras, ao lado do irmão, Marcio de Souza Mello, que foi mestre de bateria do Morro do Céu e hoje é diretor de harmonia do Jardim das Palmeiras.

“Eles torcem. Meu irmão, que é músico, foi mestre de bateria do Morro do Céu e hoje ele é diretor de harmonia do Jardim”. Os pais de Dayana apenas acompanham os passos da filha e compareceram aos ensaios na Praça XV.

WhatsApp Video 2024-02-08 at 8.02.59 AM – Vídeo: Arquivo Dayana Mello

Profissão e curiosidade

A sambista começou a dançar com 13 anos na educação física e chegou a jogar futebol de salão e basquete e chegou a morar em São José por alguns anos. Ela nunca fez balé e acabou perdendo alguns trabalhos por isso.

Foi então que Dayana Mello resolveu optar pela dança em vez e atualmente dá aula em uma escola de balé. “Me apaixonei pela dança de salão e samba e resolvi virar artista. Sempre fui muito determinada”.

Dayana Mello no show abertura Carnaval em Macau, na China – Foto: Arquivo pessoal Dayana Mello

A sambista era a única que não tinha formação como bailarina quando trabalhou no navio.

Em 2008, ela passou um ano e sete meses com um grupo de dança em alto mar.

Trabalhou e conheceu bailarinos de São Paulo e até da Rússia. “É muito gostoso, além de dançar, eu dava aula. O inglês a gente vai aprendendo na marra. Eu não falava e estudava pouco”, confessa.

Desde 2022, a sambista trabalha com organização e como jurada no projeto Dança Catarina, da Fesporte, com dança itinerária regional e que contempla crianças e adolescentes. “A gente vê cada talento perdido no nosso Estado que ficamos de boca aberta”.

Como jurada, a sambista avalia a garra, a força de vontade das crianças: “A garra dela, força de vontade dela. Tem a vontade, o ritmo e vê que tem aquele brilho no olhar é o que mais me encanta. É o nosso futuro”.

Outro lado profissional de Dayana Mello

Desde pequena, Dayana revelou um outro lado: a paixão por design de interiores. Ela conta que sempre observava prédios quando viajava.

Sendo assim, ainda na pandemia ela correu atrás e se formou em tecnólogo de design de interiores em 2023. Ela pretende seguir a área de design de interiores e fazer outros cursos.

Restrição por idade em contratos

Dayana Mello disse que chegou a ter algum tipo de restrição por questão de idade quanto a contratos que chegou a fazer no navio sempre há comentários negativos, mas lida bem com a opinião das pessoas.

“Sempre tem algumas pessoas que falam: ‘Nossa, ela está com tantos anos ainda está no carnaval’, mas eu acho que não tem idade”, conta Dayana. Como já viajou bastante, ela destaca o amadurecimento e experiência que adquiriu para seguir adiante.

“Acho que a experiência da viagem muda muito. Tem que conviver com muitas pessoas diferentes mesmo sendo os brasileiros mais próximos da gente, mas acaba aprendendo a ficar mais calada, observar mais. Você ganha uma maturidade”, revela.

Rotina e importância do carnaval

A rainha do Jardim das Palmeiras já fez academia, sofreu uma lesão e teve de parar. Dayana conta que voltou em 2023 a fazer academia por causa do concurso de rainha. “Voltei a malhar e, quando não podia, fazia em casa”.

Outra questão é a comunicabilidade, já que é a sambista é bem tímida. A questão da arte ajudou a desenvolver também esse lado de Dayane: “Quando a gente pisa no palco, a arte muda isso”.

A sambista destaca a importância da dança e da cultura carnavalesca. “A dança ajuda em todos os sentidos. O carnaval é fonte de renda e agrega para muitas famílias que dependem disso. Não é só uma festa, ele gera economia para as escolas também”.

Novas gerações de sambistas

A rainha do Jardim das Palmeiras contou também que houve um concurso no Rio de Janeiro com uma nova roupagem, onde convidaram meninas da própria escola.

“Muitas meninas ficam com esse receio do concurso, mas essa questão de tentar trabalhar um pouquinho mais para elas se prepararem”. Esse ano, há apenas sete meninas no concurso em Florianópolis.

Ela conta o que é preciso para fortalecer essa questão para ser rainha do carnaval. “Trabalhar a cultura nas escolas, nos blocos para fortalecer. Acredito que toda sambista tem essa vontade de ser rainha e muitas ficam com medo. Isso não garante nada. O concurso é no dia, a gente não sabe como é cabeça de jurado. E esse ano tem o quesito de semana o pé que eu achei importante para uma rainha.”, pontua.

Expectativa 

“Eu tento estar lá nos ensaios todos os dias, e me fazer presente. Acho que é dever de uma rainha com a escola. Estar inserida nesse contexto é importantíssimo saber da origem da escola. Acho que é bem importante a união. Se precisar de alguma coisa, a gente se junta para ver que pode fazer então eu acho que isso já é uma expectativa boa”, finaliza.