Um dia antes da festa, tradicional bloco de Florianópolis muda de lugar pela 1ª vez em 20 anos

Por duas décadas, o bloco Onodi anima o bairro Campeche, em Florianópolis, como uma das festividades mais tradicionais do Carnaval local. Com suas raízes fincadas nas ruas da região por muitos anos, o Onodi virou uma celebração aguardada ansiosamente pelos moradores e visitantes, marcando o calendário festivo da cidade. 

Bloco do Onodi muda de lugar em 2024

Bloco Onodi, em Florianópolis, vai mudar de local pela primeira vez em 20 anos – Foto: Arquivo/Lídia Gabriella/ND

No entanto, este é o primeiro ano em que a organização do evento decidiu cobrar entrada para participar do bloco, que tradicionalmente era realizado gratuitamente.

Pela primeira vez em sua história, o Onodi viu-se forçado a mudar de local, em meio a um conflito entre a organização do evento e a Amocam (Associação de Moradores do Campeche). O motivo, segundo a organização do evento, é uma disputa sobre o uso do campo do Pacuca, onde o bloco costumava se reunir.

Agora, o evento passará a acontecer a partir deste sábado (10) até esta terça-feira (13) no bolsão da Beira-mar Continental.

“Nos expulsaram da nossa casa. O Bloco Onodi deste ano não será no Campeche. Fomos surpreendidos por uma decisão do Ministério Público, que acatou um pedido da Associação de Moradores do Campeche (AMOCAM), para embargar a realização do bloco, A associação, que deveria defender os interesses do bairro, fez de tudo para expulsar o Onodi do Campeche. Por conta disso, o Bloco Onodi deste ano acontecerá no bolsão da Beira-mar Continental. Toda a programação e estrutura está MANTIDA. Não vamos desistir. O Onodi continuará crescendo e voltará para sua verdadeira casa no ano que vem. Atenciosamente, Organização do Bloco Onodi 2024”, escreveu em nota a organização do bloco.

Embate legal no Bloco Onodi

Segundo a Amocam, a única coisa pedida pela Associação foi para o bloco apresentar autorização para usar o local, o que, segundo eles, não aconteceu.

A associação explicou ao Grupo ND que ficou sabendo que o festival duraria quase quatro dias e que começaria às 18h e iria até às 2h da manhã em local público, com cobrança de abadá, além da sublocação diária para venda de bebidas e comidas.

“Nós apenas questionamos se eles tinham autorizações para realizar a festa e se poderíamos vê-las. Por isso, por meio do Ministério Público, solicitamos essas autorizações”, diz a Associação.

Segundo a Amocam, a única coisa pedida pela Associação foi para o bloco apresentar autorização para usar o local – Foto: Arquivo/Lídia Gabriella/ND

O embate tomou proporções legais quando o MPF (Ministério Público Federal) interveio, solicitando esclarecimentos às partes envolvidas, depois do pedido da Amocam.

Conforme o MPF, foram então buscados esclarecimentos sobre o evento junto à FAB (Força Aérea Brasileira) e à SPU (Superintendência do Patrimônio da União), argumentando que o local é tombado desde 2019, o que gerou mais complexidade à situação.

Em nota, a SPU explicou que não houve nenhum embargo para a realização do evento por parte da SPU.

“Na verdade, recebemos uma denúncia de um evento em possível desacordo com as destinações que existem na área. Parte da área está cedida ao município para implantação de um parque cultural e o restante está sob a guarda da aeronáutica”, explica o órgão.

“Dessa forma, oficiamos o município e a Base Aérea de Florianópolis solicitando informações sobre o evento, sobretudo eventuais autorizações emitidas pelos órgãos que estão com a gestão da área. Na manhã desta sexta-feira (9), nossa equipe efetuou uma vistoria ao local para levantar as informações, mas não houve nenhum embargo por parte da SPU”, continua.

A nota termina explicando que, segundo informações recebidas do município por telefone, em análise sobre as restrições existentes na área, principalmente as ações judiciais e o tombamento, o município optou por cancelar a autorização da realização do evento no local.

Prefeitura de Florianópolis diz apoiar evento

Já a prefeitura explicou que não foi o município que cancelou a realização do evento no Campeche, mas que os próprios organizadores optaram por mudar o local por conta da ameaça de judicialização.

“A Prefeitura de Florianópolis lamenta que, mais uma vez, a Amocam tome decisões no sentido de prejudicar a população do Campeche, agora impedindo um bloco tradicional de se apresentar durante o Carnaval”, complementa.

PMF diz que não foi o município que cancelou a realização do evento no Campeche – Foto: Arquivo/Reprodução Facebook/ND

Em conversa com a Prefeitura, os organizadores acharam melhor mudar de local para não correr o risco de judicialização. O município irá apoiar o bloco, assim como todos devidamente credenciados, para que a manifestação cultural do Carnaval não se perca.

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